ENTREVISTA EXCLUSIVA
Mirisola: “Fugir das palavras é coisa de quem chora ouvindo o hino nacional”
A literatura de Marcelo Mirisola incomoda. O escritor também - fundindo ficção e realidade. Uma amostra, num trecho de seu livro Azul do filho morto: “Eu me lembro de ter tentado matar meu irmão mais velho. Tive um cachorro epilético. E flagrei mamãe com outra mulher, sob uma luz prateada”.
O escritor estará em Ourinhos no dia 13 de agosto, quarta, participando de conversa literária durante o Festival Literário A(o)gosto das Letras. O autor divide o encontro com o quadrinista André Dahmer. A mediação é de Marco Aurélio Gomes e Neusa Fleury, e o evento acontece no Restaurante Lelui, no centro. Os convites podem ser retirados na Biblioteca Municipal Tristão de Athayde. Confira entrevista com Marcelo Mirisola, autor de Fátima fez os pés para mostrar na choperia, O herói devolvido, O azul do filho morto, Bangalô, O banquete (com o cartunista Caco Galhardo), Joana a contragosto, Notas da arrebentação, O homem da quitinete de marfim, Proibidão, Animais em extinção, Memórias da Sauna Finlandesa e Charque.
O livro "O Banquete" resultou da parceria de Mirisola com o quadrinista Caco Gualhardo
Tertuliana - Existe realidade demais em sua ficção?
Mirisola - Problema é saber se existe realidade. Vamos supor que sim; a partir daí eu posso dizer que existe ficção demais da realidade.
Tertuliana - Conte sobre a experiência de escrever um livro em parceria, como é o caso de Teco, o garoto que não fazia aniversário.
Mirisola - Feito uma conversa. Mas uma conversa em outra dimensão - onde os ponteiros se ajustam com mais facilidade. Pelo menos comigo funcionou assim. Tanto no caso do Fúrio Lonza, coautor do Teco..., como no caso do Caco Galhardo, coautor do livro O Banquete.
Tertuliana - O livro foi classificado como infanto-juvenil. Como as crianças reagem à leitura do texto? E os professores?
Mirisola - Até agora apenas tive a resposta de adultos, que reagiram como crianças.
Tertuliana - Qual a reação dos leitores quanto à linguagem crua que utiliza em seus textos? Para você, essa forma de expressão é capaz de afastar o leitor ou criar empatia?
Mirisola - Crueza não é sinônimo de pobreza, crua porém trabalhadíssima. Se ocorre empatia é pela elegância do texto. Palavrão não existe. Existe a palavra necessária. O escritor não pode se intimidar com o seu instrumento de trabalho, que é a palavra. A mesma coisa vale para o leitor. Fugir das palavras, evitá-las porque são fortes, ah, isso é coisa de quem chora ouvindo hino nacional.
Tertuliana - Qual a função da literatura e dos escritores?
Mirisola - Se eu soubesse nem teria começado a escrever.