“A literatura provoca imagens. Fico com uma frase ou uma palavra na cabeça por dias ou semanas, até que surge a ideia de um desenho ou pintura”. É desta forma que a artista Mayara Nardo conta a relação de sua arte, a pintura, com a literatura.
Natural de Santa Cruz do Rio Pardo, a jovem de 24 anos participou recentemente de uma exposição coletiva no Carrousel do Louvre em Paris, galeria que fica no subsolo do famoso Museu. A viagem foi possível com a ajuda de um financiamento coletivo feito na internet.
A jornalista Flávia Manfrin conheceu o trabalho de Mayara na internet, por ocasião da “vaquinha” online. Flávia coordena o “Giro 360”, um espaço multiuso instalado em um sobrado antigo em Santa Cruz. O local também expõe obras da pintora.
Em época de crise, onde o compartilhamento de informações e ajuda coletiva (como a que possibilitou a viagem de Mayara), o “Giro” está afinado com essas propostas. “Nosso espaço é para ser compartilhado. Alugamos salas para atividades diversas como jantares ou aniversários. Também temos espaço para treinamentos, oficinas e eventos”. O “Giro” também é um restaurante, mas a cozinha pode ser utilizada por outras pessoas: “Às quintas-feiras temos um churrasqueiro que utiliza o nosso espaço. Ele traz as carnes. Nós fazemos os complementos e ajudamos na divulgação. São parcerias que possibilitam e mantém o projeto”, explica Flávia, com a cabeça sempre cheia de novas ideias. Fiel à concepção de espaço onde tudo pode acontecer, o “Giro” foi pensado para ser local impulsionador de negócios, de divulgação artística e realização de eventos diversos. E também para mostrar novas tendências, como a comercialização de produtos orgânicos, que acontece no local. Se alguém não entendeu o que é economia criativa, é hora devisitar o “Giro”.
Além do pincel, tintas, lápis e canetas, Mayara Nardo também precisa de música para trabalhar,que escolhe de acordo com o que pretende pintar. “Às vezes é a frase de uma música que inspira”, explica, mostrando uma tela inspirada em Belchior.
Mayara Nardo
Um poema de Ferreira Gullar, em que o poeta maranhense compara a deterioração de uma casca de banana ao processo de envelhecimento humano inspirou diversos trabalhos: “Percebi a beleza na casca que apodrecia. Acabei pintando várias telas com esse tema”.
Com formação acadêmica, a jovem pintora busca outros caminhos, aproximando-se da arte contemporânea. “Gosto de grafite. Faço ilustração para CDs e livros, mas tenho um pé na pintura clássica. Estou em processo de mudança, mas ainda não sei aonde chegar”.
A tarde de sábado esteve animada no “Giro”, onde Mayara coordenava um workshop. Os alunos leram Ferreira Gullar, e foram orientados a encontrar um objeto, cena doméstica ouolhar pela janela observando até encontrar uma motivação para o trabalho que fariam, que tivesse relação com o poema lido.
Derrubando barreiras e ousando mesclar conhecimentos e práticas, as duas mulheres santa-cruzenses apontam novos caminhos.
Flávia Manfrim, do Giro 360
Serviço: O Giro 360 fica na rua Conselheiro Antonio Prado, 169, em Santa Cruz do Rio Pardo.
TEXTO E FOTOS: NEUSA FLEURY