"Não trabalho para afastar ou atrair leitores"
A primeira das conversas literárias do 6º. Festival Literário A(o)gosto das Letras vai reunir o escritor Marcelo Mirisola e o quadrinista André Dahmer. Além de outros assuntos referentes ao trabalho da escrita, os autores vão conversar sobre os limites da literatura, já que ambos são considerados escritores “marginais”. O encontro vai acontecer no Restaurante Lelui, no centro, e será mediado por Marco Aurélio Gomes e Neusa Fleury. Os convites podem ser retirados na Biblioteca Municipal Tristão de Athayde, à Rua São Paulo, 149.
André Dahmer publicou os livros Rei Emir Saad - o monstro de Zazanov, O livro negro de André Dahmer, A cabeça e a ilha e mantém o site Malvados, título de um de seus livros. Seus quadrinhos são publicados também na Folha de São Paulo.
Leia entrevista exclusiva com André Dahmer para o site Tertuliana:
Tertuliana - Existe realidade demais em sua ficção?
Dahmer - Acho que a realidade é base para a construção de qualquer peça de ficção. Criação é encontro entre o mundo interior e a vida lá fora. Não é possível fazer nada a partir do nada: toda obra é junção de memória ideal e realidade crua. Se há muita realidade no meu trabalho, deve me faltar memória ideal.
Tertuliana - Como os leitores reagem à linguagem crua de seus textos/desenhos? Para você, essa forma de expressão afasta ou cria empatia?
Dahmer - Não trabalho para afastar ou atrair leitores. Os meus problemas são outros, o motor é outro. Eu chamo de fome entre os meus amigos. Não passa por uma questão de desejo, mas de necessidade.
Tertuliana - Qual a função da literatura e dos escritores?
Dahmer - “A arte perturba os satisfeitos e satisfaz os perturbados” - Witold Gombrowicz
Tertuliana - Ainda existe preconceito com o uso de HQ para fins educacionais?
Dahmer - O preconceito está em todos os lugares. Por que não estaria nos livros didáticos?
Tertuliana - Temos pouca publicação de livros de HQ porque faltam leitores, ou faltam leitores porque temos poucas publicações de livros?
Dahmer - Não sou um homem do mercado, um cara que entende as regras de produção e venda. Sei que não há no Brasil uma cultura formada para quadrinhos, algo sólido como na Argentina, França ou Japão. Nessas horas, sempre penso na música da Chapeuzinho Vermelho: "A estrada é longa / o caminho é deserto".
Veja mais tirinhas em http://www.malvados.com.br