Dona Lola era uma senhora distinta, funcionária da Companhia Luz e Força Santa Cruz no longínquo ano de 1945. No dia 7 de agosto ela foi ao cinema, na primeira sessão, mas não se sabe o nome do filme. Era mais prudente ir nesse horário, pois havia perigos para uma mulher andar nas ruas escuras de Ourinhos naquele tempo. Do filme ela lembrava pouco, não prestou muita atenção e acabou cochilando. Mas quando as amigas da repartição perguntassem na segunda-feira como tinha sido seu final de semana, ela diria que tinha ido ao cinema. E à primeira sessão, como de costume, pois se sentia mais segura. Àquela hora ainda encontrava conhecidos pelo caminho, casais com crianças que voltavam da retreta no jardim, ou outras senhoras distintas como ela, que tinham ido à missa mais cedo.
Dona Lola voltava para casa olhando para baixo, inconsolável. Na saída do cinema, passando a mão direita sobre o pulso esquerdo num hábito adquirido desde os 14 anos, quando ganhou o primeiro relógio, percebeu que o pulso estava nu. Havia perdido seu relógio de macasite no cinema. De nada adiantaria voltar e procurar agora, já que a segunda sessão já havia começado, as luzes apagadas e o cinema estava lotado como sempre.
Dona Lola anunciou a perda do relógio de macasite no Jornal A Voz do Povo, avisando que quem o encontrasse seria gratificado.
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