Autor de Maceió é selecionado em terceiro lugar

O historiador e contista Wibsson Ribeiro Lopes teve seu conto “Natal após o espancamento” selecionado em terceiro lugar no II Concurso Contos de Natal realizado pela Associação de Amigos da Biblioteca Pública, AABiP. Wibsson é de Maceió, AL,  e teve três poemas publicados na coletânea "poetas vermelhos" da Editora Sundermann.

Confira o conto de Wibsson Ribeiro Lopes:

                              

Natal após o espancamento

 

Despertou e foi transferido de uma maca para a outra, os enfermeiros rápidos e ao mesmo tempo cuidadosos. Feliz por estar vivo, não sentia vontade de falar.  Chegando ao leito, a enfermeira perguntou se ele queria fazer xixi. Acenou afirmativo e trouxeram-lhe um pequeno jarro gelado que encostou em seu sexo encolhido e ele, apesar do esforço, não conseguiu liberar líquido algum.

A mãe, uma senhora de idade, estava ao seu lado no leito. Acariciou os cabelos do filho e disse que ia ficar tudo bem, beijando-lhe a testa. A sonolência o agarrou enquanto via um programa de comédia na televisão, sem nenhuma vontade de rir.

Quando acordou percebeu que havia algo errado com seu rosto. Os socos e pontapés o desfiguraram. Chovera durante o tempo em que estivera dormindo e o reflexo na janela opaca mostrava seu rosto inchado. As bochechas como se fossem explodir. A boca estourada e vermelha. Vomitou sangue três vezes durante a noite e sentiu como se o maxilar estivesse solto.

De manhã levaram-no para a sala de raio-x. Todos faziam cara de pena quando ele, na cadeira de rodas, passava. No elevador uma criança o encarou amedrontada. Na sala de espera senhoras pensavam "pobrezinho" e rezavam em silêncio pra que deus desse saúde àquele jovem.

Chegando em casa ele lembrou que era natal pela decoração espalhafatosa da sacada do prédio. As luzes pisca pisca iluminavam a rua. Dentro do apartamento, a velha árvore de natal tinha o pé amarrado para que o vento não a derrubasse. Poucos presentes depositados ao redor do antigo pinheiro.

À noite, durante a ceia, esmagaram a comida e transformaram-na em uma papa que ele sugou por um pequeno canudo. Depois devorou sozinho quase todo o pote de sorvete. Os parentes pareciam tristes e ao mesmo tempo felizes por ele estar vivo depois do espancamento que quase o matou. Alguns vizinhos foram visitar-lhe e desejar feliz natal.