Sinto remorsos quando minha jabuticabeirinha frutifica. É a segunda vez que isto acontece, embora no ano passado ela tenha sido mãe de um único fruto.
Como a produção deste ano está cinco vezes maior, imagino que seja do tipo fértil, boa parideira.
Uma intumescência começa a se formar nos galhos frágeis, feito espinha num rosto adolescente. Uma pequena saliência, mais percebível no tato que no olhar. De repente, desabrocha uma espécie de espanador branco: florzinha pequena e nada tímida. Mas vive pouco: dois ou três dias e se retrai, transformando-se num carocinho verde, pendurado no tronco qual bolinha em árvore de natal. E vai crescendo e escurecendo aos poucos: primeiro arroxeia, depois enegrece, virando fruta macia, matrona.
Acompanho num prazer de olhar, de passar a mão – orgulhosa ao constatar que tenho no quintal uma jabuticabeira.
Meu remorso é que a pobre árvore está plantada num vaso, atrofiando seu crescimento e sua esperança de um dia ser igual às outras. O pezinho é pequeno, menos de um metro; as raízes de encontro à cerâmica engrossam e se recurvam, numa procura inútil. Fico ali, admirando sua teimosia em ser normal, parindo suas cinco frutinhas desta estação.