SIDNEY MOLINA: FAZENDO E PENSANDO A MÚSICA BRASILEIRA
O professor de história da música do XII Festival de Música descobriu o jazz e a música clássica quando ainda ouvia Beatles no toca-discos, e na adolescência não fazia muita distinção entre música clássica e MPB. A relação de Sid-ney Molina com a música começou cedo. Aos sete anos foi estudar violão, sempre com o apoio dos pais. Foi aluno de Manuel Fonseca e Armando Vidigal. Mais tarde, devido à ausência de cursos de violão nas universidades públicas, resolve cursar filosofia na USP. Depois, se tornou mestre e doutor em Semiótica pela PUC defendendo a tese ‘O violão na Era do Disco: interpretação e desleitura na Arte de Julian Bream’.
Em 1992, fundou o quarteto de violões Quaternaglia, a partir de um “despretensioso encontro entre quatro jovens violonistas que estudavam com o professor Edelton Gloeden”. Atualmente, Sidney Molina leciona em diversas universidades brasileiras e atua como crítico musical do jornal Folha de São Paulo. Confira a entrevista do professor Sidney, onde ele fala um pouco da sua formação, das relações entre o trabalho de concertista e crítico e do seu livro Música Clássica Brasileira Hoje, publicado pela Publifolha em 2010.
Como foi o início da sua formação musical? O ambiente no qual o sr. cresceu contribuiu de alguma maneira para despertar esse interesse pela música?
Comecei a estudar violão aos sete anos, empolgado com a música que ouvia, primeiro o rock e depois a MPB. Descobri a música clássica (e o jazz) nesse processo. Apesar de não haver músicos na família antes de mim, tive uma ótima orientação de meus primeiros professores, Manuel Fonseca e Armando Vidigal. E meus pais apoiaram os estudos de música, o que foi essencial para o meu desenvolvimento.
Como sua atuação como concertista se relaciona com o trabalho de pensador e crítico musical?
Costumo dizer que uma coisa pode ajudar a outra. A reflexão crítica e a for-mação humanística mudam concepções, estimulam a criação, interferem no som: o modo como se faz música manifesta uma forma de pensar, de ver o mundo. Por outro lado, a experiência com a performance, com o palco, com ensaios, concertos e gravações dá concretude ao trabalho do pesquisador, serve de lastro para o acadêmico e enrique-ce o trabalho do professor.
Em um de seus textos, o sr. afirma que o interesse pela música parte de uma ‘experiência musical forte’, esteticamente marcante na vida da pessoa, que se desenvolve quando aliado ao gosto pelo estudo de música. Qual o papel do professor no desenvolvimento desse gosto pelo aprendizado?
O aluno pode ver a música nos olhos do professor. Mas não apenas isso: em casos especiais, o aluno pode ver a sua própria musicalidade refletida pelo professor. Claro, nesse caso estamos falando de um verdadeiro educador, de um professor que tem vocação, que acredita no aluno frequentemente mais do que ele próprio.
Comente um pouco da história do quarteto de violões Quaternaglia.
O Quaternaglia nasceu há exatamente 20 anos. Originou-se do despretensioso encontro entre quatro jovens violonistas que estudavam com o professor Edelton Gloeden. O programa do primeiro recital mostra que já havia interesse do grupo pela música do compositor cubano Leo Brouwer. Mas poucos poderiam imaginar, que - duas décadas depois - estaríamos em forma, lançando o sétimo CD, tendo quase 50 obras dedicadas ao grupo, discos gravados e lançados no exterior (um deles produzido por Egberto Gismonti), ter realizado 10 turnês pelos Estados Unidos e - veja só que honra! - com o próprio Leo Brouwer regendo o nosso concerto dos 20 anos, que ocorreu no último dia 9 de junho em Belém do Pará.
Em 2010 o sr. publicou o livro Música Clássica Brasileira Hoje pela Publifolha. Como foi concebido esse trabalho?
O convite partiu da editora para sair dentro dos moldes da coleção "Folha Explica". Creio que o livro tem duas características diferentes dentro do meio: 1) o fato de darmos atenção simultaneamente a compositores e intérpretes (geralmente os livros de história da música não tratam de instrumentistas, cantores e regentes); e 2) a ideia de usarmos os verbetes (reduzidos a 49 por uma questão de espaço) não apenas para tratar do artista em questão, mas também para mencionar o trabalho de outros músicos que atuam na mesma área.