O 5º Curta Ourinhos vai promover também uma Oficina de Produção de Filmes de Animação, coordenada por Maurício Squarisi, do Núcleo de Cinema de Animação de Campinas. A oficina é voltada aos educadores e multiplicadores e será realizada na Biblioteca Municipal Tristão de Athayde, entre os dias 6 e 8. Confira abaixo a entrevista com Maurício, onde ele fala das atividades do núcleo e sobre trabalho que será desenvolvido em Ourinhos.
Fale um pouco sobre o Núcleo de Cinema de Animação de Campinas.
Em 1975, Wilson Lazaretti (Wal) foi convidado para dar aulas de cinema para crianças no Conservatório Carlos Gomes, em Campinas. Wal começou a trabalhar com as crianças e viu que elas estavam interessadas em desenho animado. Depois de um tempo no Conservatório, Wal conseguiu uma sala no Teatro Castro Mendes. Eu passei a fazer parte do núcleo em 1979. Wal e eu desenvolvemos uma didática de animação através de oficinas. Aprendemos muito a lidar com crianças e educadores nas várias oficinas que fizemos (e fazemos) pelo Brasil. Trabalhamos com crianças indígenas na Amazônia e no Xingú, com crianças pantaneiras no Mato Grosso, com crianças e educadores do Triângulo Mineiro, temos trabalhado de Macapá a Erexin. Hoje, prestes a completar 35 anos de Núcleo, continuamos realizando filmes autorais e oficinas. O acervo de filmes produzidos pelo Núcleo conta hoje com mais de 200 títulos.
Você realiza muitas oficinas com jovens e adolescentes. Como é a receptividade desse público.
Os jovens recebem muito bem as oficinas. Normalmente já dominam vários programas de computador que possibilitam produzir animação. Porém, em nossas oficinas procuramos ir além da técnica. Mais importante do que dominar a técnica, o jovem precisa se envolver com alguma "ideologia" para usar a animação como ferramenta de melhoria de sí mesmo e do nosso mundo. A animação que a grande mídia divulga afasta muito o jovem da "animação poética", nosso trabalho é mostrar ao jovem essa possibilidade, isto é fazer poesia na animação, criar, inventar...
Como você analisa a importância e o espaço ocupado pelos filmes de animação no panorama geral da produção de filmes no Brasil.
Vivemos um momento de colheita de frutos plantados pelas gerações de animadores que precedem a atual. Há quinze, vinte anos atrás fazer animação era muito mais oneroso, demorado e complicado. Hoje temos os recursos tecnológicos que vieram baratear e democratizar o processo. Além disso, há muito mais instrumentos de financiamento para a produção. O acesso a informação (festivais, televisão e internet) também colabora. Também é verdade que o Brasil vem semeando grandes talentos da animação. Há séries comerciais e vários longas produção. Há escolas se formando e uma associação de classe (ABCA) muito bem organizada. Há um grande número de curtas autorais sendo produzidos e muitos espaços de divulgação.
Você vem trabalhando na produção de um longa de animação. Fale um pouco sobre esse projeto.
A produção de um longa é um empreendimento bastante complexo. Wal (Wilson Lazaretti) trabalha na pré-produção há oito anos. Em 2008 conseguimos alguns recursos através da lei Rouanet, e em 2009 conseguimos mais recursos pela lei de incentivo estadual (Proac). Wal vai trabalhando no roteiro das seqüências mais adiantadas e dirige a equipe de animadores, pintores, músicos e editores nas seqüências iniciais. O filme conta a aventura de Dr. K, que vai desvendando as formas de produzir um desenho animado poético, criando os personagens, os cenários, as situações...
Como será a oficina que você vai coordenar em Ourinhos?
Será uma oficina para educadores. Vamos explorar duas técnicas, "desenho animado", usando papel e mesas-de-luz para produzir desenhos que serão digitalizados através de scaner e pintados no computador. A outra técnica será "sombras chinesas", desenhos recortados e filmados com uma câmera digital em uma mesa de vidros multiplanos. O grupo realizará um filme autoral coletivo, todos participarão da elaboração do roteiro, desenhando as figuras, a pintura digital, enfim, todos participam de todo o processo.
Legenda:
Maurício Squarisi orienta alunos durante oficina de animação