MAESTRO ANTONIO CARLOS NEVES

 

Já faz algum tempo que o Festival elege dois músicos para homenagear na edição do ano, distinguindo-os entre “homenageado” e “convidado”. A iniciativa busca o reconhecimento público e a divulgação da obra dos homenageados. Em 2010, o músico convidado é o maestro Antonio Carlos Neves. 

Em edições anteriores, foram “convidados” do Festival os músicos Toninho Horta,     Guinga, Toninho Carrasqueira, Proveta, Cristóvão Bastos e Júlio Medaglia.

Maestro Neves, como é conhecido entre os músicos, teve sua vida profissional ligada à cidade de Tatuí, onde realizou sua formação em piano clássico pelo Conservatório Dramático e Musical ‘Dr. Carlos de Campos’. Na mesma instituição, passou de aluno a professor, assumindo a direção do Conservatório. “Ao todo, foram quarenta e dois anos: oito como aluno, dez como professor e vinte e quatro como diretor”, explicou o maestro.

Paralelamente ao intenso trabalho no Conservatório, o maestro Antonio Carlos Neves encontrou tempo para escrever arranjos para músicos que se revelaram na história da música brasileira como Wagner Tiso, Altamiro Carrilho e Elba Ramalho. Também escreveu para as principais orquestras brasileiras, e regeu concertos no Brasil e exterior. Foi coordenador geral do "Festival de Inverno de Campos do Jordão", projetou o Programa de Apoio às Bandas, (Pró Bandas), da Secretaria de Estado da Cultura, e é o criador do Festival de MPB de Tatuí. Gravou três CDs com Toquinho, como arranjador, pianista e maestro.

Nas primeiras edições do Festival de Música de Ourinhos, a participação do maestro Neves foi decisiva, facilitando a vinda de professores e orquestras, encorajando, mostrando caminhos.

Os longos anos como professor e diretor do Conservatório fizeram aguçar sua sensibilidade para perceber as carências dos músicos de todo o Brasil que procuram aquela instituição de ensino, tornada referência nacional também graças à sua dedicação.

 

O senhor é uma pessoa muito importante para este Festival. Participou desde o início, indicando professores e grupos, ajudando com sua experiência. Como é chegar aqui e ver de perto nossa estrutura, funcionamento?

Olha, eu sou suspeito por que eu sempre gostei de dar aulas, é uma atividade que exerço desde que comecei a trabalhar com música, dei aulas no Conservatório de várias matérias.  Fui professor de teoria e solfejo, de análise, de harmonia de tudo que você possa imaginar, e eu sempre gostei desse trabalho. E agora que não estou mais na direção do Conservatório eu voltei a me dedicar a ensinar. Tenho sempre a satisfação de motivar o pessoal prá fazer música, por que nesse mercado que nós vivemos, infelizmente não temos partituras disponíveis com facilidade. E vejo que tem muita gente trabalhando com crianças e iniciantes em música sem material didático, é difícil o acesso a isso. Então eu procuro passar para essas pessoas informações e ferramentas para eles produzirem seu próprio material. A satisfação é muito grande quando percebo as pessoas realizando esse trabalho com as crianças ou os músicos do local, em igrejas, prefeituras, instituições particulares, conseguindo ler e escrever música....

 

Foi uma vida trabalhando com a educação musical. Como o senhor agora a volta da música nas escolas?

Eu fui do tempo que existia música nas escolas. Mas nossa preocupação hoje é como ensinar a essa nova geração, que é muito diferente da minha. Não pode ser da mesma maneira, os jovens hoje não teriam interesse. Então acho que o segredo está em ter pessoas qualificadas, não precisa muitos diplomas não; mas sim educadores com uma proposta que atraia esses adolescentes, que consiga conquistá-los. Por que não adianta colocar música nas escolas como uma coisa chata, com pessoas que não estejam preparadas para fazer aquilo, não vai dar certo. É um desafio conquistar essa geração que está aí, muito mais ligada em computadores. Daí a nossa vantagem também em trabalhar com computadores, acho que isso vai ser fundamental na volta da música nas escolas.

 

O senhor trabalhou com seus alunos no período da manhã. Agora são 16h05, deveria estar descansando e continua na mesma sala, atendendo quem lhe procura. Não prefere ficar no hotel e descansar?

Ah! Não dá...No primeiro dia eu fiquei no hotel assistindo televisão, injuriado. Aí eu combinei com o Wilson (Diretor da Escola Municipal de Música), dele dar um jeito e me arrumar uma outra sala para eu ficar lá no Centro Cultural à tarde com quem quiser estudar. Então estamos fazendo isso, estamos dobrando horário porque é muito mais divertido ficar com o pessoal aqui trabalhando, que prá mim é um trabalho que me gratifica muito, dá muito prazer, do que ficar assistindo televisão.

 

Maestro, para terminar eu queria que o senhor também se sentisse responsável pelos dez anos do Festival, por que se não fosse a atenção e o carinho dispensado nos primeiros anos, nós não teríamos chegado aqui. Sinta-se assim, tão responsável quanto toda a equipe da Secretaria de Cultura. O senhor podia ter falado “não” no começo...

Então eu fico contente de fazer parte dessa história...

 


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