“É o maior violonista que o Brasil já produziu e um revolucionário na técnica violonística”. Palavras do compositor e também violonista Guinga, referindo-se a Marcus Tardelli, professor do curso de violão popular desta edição dos dez anos do Festival de Música de Ourinhos.
Vencedor do prêmio Tim 2007 como Revelação da Música Brasileira, Tardelli é autodidata e diz que suas influências são muito mais musicais que violinísticas.
Confira o papo exclusivo do músico com o Balaio Cultural .
Você tem recebido críticas sobre seu trabalho que elogiam uma maneira muito particular de executar o instrumento. O que são estas "técnicas inovadoras" na sua expressão orquestral do violão? Quais as características principais dos violonistas da atualidade que lhe chamam atenção?
Antes de começar a tocar violão, com 7 anos de idade, eu já tinha uma profunda relação com a música, na verdade desde que nasci. Ouvia muitos discos desde muito cedo, já tinha muitos sons em minha mente e o violão surgiu mais como uma ferramenta para expressar as idéias. Como sempre gostei mais de música do que de violão, e devido à minha facilidade com o instrumento, eu naturalmente desenvolvi técnicas para expressar os sons que eu imaginava, como o uso ativo do polegar esquerdo na frente do braço do violão, e outras disposições inéditas como o uso de outras angulações dos dedos em diferentes pestanas, notas pressionadas com a unha ou parte da mão.
Mas o violão era a ponte, o objetivo sempre foi a música. A minha técnica surgiu como uma necessidade de atingir a música que eu imaginava, a qual a técnica tradicional muitas vezes não poderia dar conta.
Quanto aos violonistas, o que sempre me chamou mais a atenção em um músico é o seu lado artista e não tanto o instrumentista, o lado da expressão, da emoção, isso pra mim é o verdadeiro virtuosimo, o de saber dizer a música das notas e não as notas da música.
É a primeira vez que você participa do Festival de Ourinhos. Qual a expectativa com relação ao curso de Violão Popular? O que os alunos interessados podem esperar deste encontro?
Espero principalmente abrir a mente dos violonistas mais para a música do que para o próprio instrumento.
O ensino da música está prestes a voltar para as escolas públicas do Brasil. Você tem acompanhado este processo? Qual a sua opinião a respeito?
A educação é fundamental. O público dos países de primeiro mundo não tem mais sensibilidade que o nosso. A diferença é que eles tem mais tempo, dinheiro e educação/preparo para a boa música. Mas isso tem que vir lá do início, com as crianças e não somente nas escolas, a mídia também tem uma grande responsabilidade nesse sentido.
Fale sobre seu primeiro álbum solo "Unha e Carne".
Disco de violão solo com composições de Guinga, onde eu fiz todos os arranjos dentro da minha forma particular de tocar e pensar o instrumento. Guinga iria gravar na época um disco de violão solo com suas músicas, mas abriu mão para que eu fizesse do meu jeito. Guinga me deu toda a liberdade na escolha do repertório e criação dos arranjos. Foi uma felicidade muito grande gravar um compositor genial como Guinga e tê-lo junto à produção deste trabalho.
Tardelli gravou o disco Unha e Carne utilizando o violão preferido de Guinga, instrumento que depois das gravações recebeu como presente do parceiro. Trata-se de um violão construído pelo luthier mineiro Lineu Bravo, que esteve no Festival de Música do ano passado com seus belíssimos instrumentos.