O que se aprende na escola?

Outro dia fui pagar um boleto para um órgão ligado ao Governo do Estado de São Paulo, a SP Previdência. Estava com três dias de atraso com relação à data de vencimento. O caixa do banco até tentou, mas disse que o sistema não permitia que a operação fosse realizada, e que eu deveria imprimir uma segunda via do boleto, acessível através do site. Fui lá, tentei e teimei. Pediam um número que eu não sabia o que era. Liguei no 0800, informado em letras grandes na página inicial do site. Não conseguiram me orientar, disseram que em caso de atraso eu precisaria me deslocar até São Paulo para pagar o boleto. Ri de nervoso, claro. Ou então “a senhora pode estar se dirigindo até uma unidade do Poupatempo”. De nada adiantou argumentar que em Ourinhos ainda não temos Poupatempo (logo teremos). Deu certo que um amigo estava indo para Marília, então entreguei o boleto e o dinheiro, e pedi que fizesse o favor de pagar a dívida na cidade vizinha. No retorno, a surpresa da informação de que no Poupatempo também se negaram a receber, dizendo que não estavam autorizados. Respirei fundo, e ainda tentei mais uma vez resolver o problema, escrevendo para a Ouvidoria, cujo endereço de e-mail também estava escrito bem grande na página inicial do site. Resposta da Ouvidoria: “Prezada senhora: Para resolver problemas relacionados à impressão de segunda via de boleto, ligue no 0800”. Aí percebi que o círculo se fechava, que não havia mais a quem recorrer. E eu só queria pagar um boleto!

Com certeza você já passou por situação parecida ligando para empresas de telefonia, bancos  ou serviços públicos onde a impessoalidade e a falta de compromisso com o cliente viraram regra.

Pausa para outro assunto: Foi divulgada a última avaliação do ensino no Estado de São Paulo, o Saresp, mostrando que a qualidade do ensino nas escolas estaduais está pior que em 2011.  Está lá comprovado que os alunos não aprendem o mínimo de português e matemática. Estudei em escolas públicas, em outros tempos. A gente tinha orgulho  da educação no Estado de São Paulo. Torcíamos o nariz para as escolas paranaenses, consideradas mais fracas. Hoje assistimos Estados do nordeste como o Ceará com projetos inovadores e de sucesso na educação e saúde, deixando para trás a tal “locomotiva” do país. Não faltam estudos que sinalizam alternativas para a melhoria da educação por aqui. Faltam políticas públicas, falta vontade, falta coragem. E o que esse assunto tem a ver com a história inicial, sobre o boleto não pago? Tem muito a ver sim. Se pensarmos que a maioria dos jovens que ocupa o mercado de trabalho é fruto dessa escola que não desenvolve potencialidades e não exercita práticas de cidadania, raciocínio e a comunicação, é possível entender.  Quando a formação educacional é deficiente, sobram espaço e defensores de práticas burocráticas e sem efeito.  Quando se afirma que a educação liberta, sinto que é muito mais do que conseguir que um jovem tenha sucesso no trabalho ou na vida pessoal. A liberdade conquistada pelo acesso à educação se percebe no grau de civilidade, em comportamentos onde que se revelam a solidariedade, o compromisso em fazer o melhor, o “se importar” realmente com o outro ser humano porque existe um reconhecimento de igualdade, de identidade entre pessoas que pertencem à mesma raça. Resumindo, é o tal do respeito que sentimos falta quando precisamos de uma informação ou do serviço público.

Também não tenho dúvidas que o hábito da leitura pode ajudar e muito a suprir deficiências apontadas na pesquisa sobre a educação, vergonha para os paulistas. Mas para isso, além do incentivo das famílias, também são necessárias políticas públicas eficientes. As bibliotecas públicas precisam receber dos governos a atenção que merecem, promovendo e apoiando atividades de incentivo à leitura. Do contrário, vamos continuar formando gerações de cidadãos e trabalhadores despreparados.

 

Neusa Fleury

Diretora da Biblioteca Municipal “Tristão de Athayde”

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