Biblioteca pública como espaço de convivência

Publicado no Jornal Novo Negocião em 08/03/2013

O jeito sisudo do professor Hélio Castanho não me botava medo. Ele foi o guardião da biblioteca do “Leônidas”, escola pública santacruzense onde estudei. Naquela época a biblioteca era fechada aos alunos. Nada de entrar ou folhear o que quisesse. Um balcão impedia a entrada, e garantia a ordem e integridade do acervo. A gente chegava ali e pedia o livro que o professor de português havia indicado. Quando íamos devolver, o professor Hélio sempre tinha outro título para indicar: “Você já leu esse?”- era uma das poucas frases que dizia aos alunos. Era rigoroso e de pouca conversa. Nos momentos em que desaparecia entre as estantes mal iluminadas, eu podia enfim observar aquele ambiente mágico, numa vontade danada de saber o que existia dentro de cada livro daqueles. Voltei à biblioteca do “Leônidas” outro dia. A escola funciona em outro prédio, e a biblioteca até mudou de nome, agora é “Sala de leitura”, instalada numa sala ampla. O antigo acervo ainda está lá num canto, protegido por uma cortina, e gostei de ver alunos em fila buscando ou devolvendo livros.

Muito antes de frequentar a biblioteca da escola, tive a sorte de ter contato com os livros que meu pai indicava ou lia para os filhos pequenos. Hoje sei que isso faz toda a diferença na formação de um leitor, e que o papel da família é fundamental para formar o hábito da leitura nas crianças.

Acompanho com interesse as mudanças ocorridas nas bibliotecas, especialmente nos espaços públicos. A crise e busca por uma nova identidade começaram na década de 90, com a chegada da internet. Até então, os espaços das bibliotecas viviam lotados por alunos fazendo as tais “pesquisas”, que na maior parte das vezes constituíam-se em cópias de enciclopédias. As facilidades para buscar informações com o “Google” e incremento dos espaços de leitura nas escolas fizeram com os alunos diminuíssem visitas às bibliotecas públicas (que não precisam mais se preocupar com as páginas arrancadas de enciclopédias...)

As transformações sociais dos últimos anos, onde uma enxurrada de informações de todo tipo nos atingem sem que possamos “filtrar”, o tempo cada vez mais escasso e a precariedade dos serviços públicos forçaram mudanças na concepção das bibliotecas públicas. Como mostrar a importância do livro para jovens que passam o dia escrevendo mensagens curtas no twitter, celular, viciados em jogos eletrônicos ou conferindo perfis no facebook?

Luiz Augusto Milanesi, bibliotecário e professor da Escola de Comunicação e Artes da USP, prega que as bibliotecas precisam se transformar em centros culturais, e que o espaço deve ser utilizado para apresentações artísticas, debates ou outras atividades que tragam as pessoas para o contato com o livro, numa vivência dinâmica. Em busca de tornar convidativo e atraente seu espaço, a Biblioteca Municipal Tristão de Athayde hoje oferece internet gratuita e espaço despojado onde é possível ler com conforto. Jornais e revistas estão à disposição dos leitores, que também podem frequentar oficinas e atividades como palestras e rodas de leitura. Todas as atividades são gratuitas, e o acervo é renovado constantemente.

Essas transformações são válidas e revelam-se eficazes, mas não são únicas. Ingênuo de quem acredita que uma rápida consulta ao Google vale mais que uma leitura atenta. Existe uma diferença entre informação e formação. Você pode rapidamente obter informação sobre um assunto qualquer, mas especialmente a leitura de ficção é importante na formação cultural, por instigar a imaginação, a criatividade e auxiliar no domínio da língua.

A Biblioteca Tristão de Athayde fica na rua São Paulo, 149, e fica aberta das 9 às 20h. Para emprestar livros, faça sua inscrição levando um documento de identidade e comprovante de endereço. Todo o acervo pode ser consultado online, o que possibilita saber se a biblioteca possui o livro que você procura, se está emprestado e quando estará disponível. Consulte www.tertuliana.com.br/links.

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