A arte de transformar papelão em bonecos e cenários

Foto: Neusa Fleury

 

O trabalho é minucioso e requer muita pesquisa. Nilza Guerreiro leva a vida construindo cenários, adereços,  marionetes e bonecos de vara. A paraense que veio para Ourinhos em 1969, confessa que se identifica com a “maluca dos 45kg”,  numa referência à própria magreza e aos personagens da tirinha que André Dahmer publica diariamente na Folha de São Paulo.

O pai ferroviário e mãe a costureira migraram com os nove filhos pequenos de  Bragança (Pará) direto para Cornélio Procópio no Paraná. Poucos anos depois o pai foi transferido para Ourinhos, e a família foi morar na vila Margarida, o bairro dos ferroviários. Ali Nilza passou a infância, entre frutas comidas no pé e brincadeiras na rua. No quintal de terra seus bonecos de pano ou argila  ganhavam vida, assim como as pedras ou pedaço de pau. Enquanto brincava, observava o trabalho da mãe que costurava, bordava e enfeitava a casa.

Quando chegou a época de escolher a faculdade, foi para Marília cursar Ciências Sociais. “Saí sem o certificado”, confessa, concluindo que foi melhor assim: “Entrei numa enrascada mais agradável, que é o mundo das artes”.

De volta a Ourinhos em 2002, passou a acompanhar os ensaios do Grupo Soarte, levada pelo amigo Glaucio Farina. “Jamais pensei em atuar no palco, mas gostava de ver todo o trabalho de preparação, as leituras de textos, os ensaios, produção de adereços e figurinos. Fui me identificando com esses bastidores do teatro”.

O empurrão veio do diretor do grupo, Sergio Nunes Faria, que se irritava quando percebia que alguma pessoa estava com as mãos desocupadas, só olhando o trabalho que outros faziam. Nilza logo começou a ajudar nos trabalhos de cenografia, também coordenado pelo diretor. Seus trabalhos manuais revelavam a disciplina para o trabalho, aprendida na família. O amor pela agulha e linha e o capricho nos acabamentos são herança materna.

 Os anos em que acompanhou o trabalho do Grupo Soarte renderam produções prazerosas. Entre elas, a confecção do cenário para o musical "Oh Abre alas",  sobre a vida e obra de Chiquinha Gonzaga e a criação de algumas instalações: “Fizemos um presépio de grande porte que foi instalado na Praça Mello Peixoto. Foi um trabalho de impacto, inesquecível”, recorda, contando também de “Amazonas de Villa Lobos”,  também exposto na Praça central, durante o Festival de Música.

Durante alguns anos o trabalho cenográfico de Nilza Guerreiro também foi visto em exposições no Teatro Municipal de Ourinhos no mês de julho, durante o Festival de Música: “A casa de Exu” foi um trabalho onde fui desafiada a criar uma parede com uma textura diferente, imitando pau-a-pique. Foi muito bom pesquisar a cultura nordestina, já que o músico homenageado foi Luiz Gonzaga. Outro desafio foi a ambientação criada para a exposição “O Rio de Pixinguinha”, em 2012.

Apesar da diversidade de técnicas aprendidas com o mestre Sergio Nunes, nesse período Nilza não criou bonecos ou marionetes. “Restaurei alguns bonequinhos para compor cenários, mas coisa pouca”. Este ano a chance chegou, e Nilza pesquisou e construiu bonecos para uma exposição instalada na Biblioteca Lidya Frayze em Ourinhos. Os bonecos Pinóquio, Gepeto e  Cigana foram criados para esta exposição, e a opção por fazê-los articulados foi da artista.

 

 

Depois desses, outros tantos bonecos foram criados, e ganharam vida nas mãos de contadores de histórias ou arte-educadores. Treinada nos bastidores do teatro, onde se escondem as engrenagens que sustentam os cenários, os bonecos ou marionetes articulados criados por Nilza são engenhosos e expressivos.

“Aprendi com minha mãe a reaproveitar materiais e o Sergio Nunes também fazia isso utilizando papelão, jornal, saquinho de pão. Ele também me ensinou a usar o arame galvanizado para fazer esculturas, técnica que utilizo para construir os bonecos”, explica.

Contatos com a cenógrafa e bonequeira Nilza Guerreiro podem ser feitos através do email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.