“A memória é um pássaro sem luz” será lançado no dia 29

O escritor Marco Antonio Fabiani lança seu primeiro romance, “A memória é um pássaro sem luz” no dia 29 de novembro na Biblioteca Municipal “Tristão de Athayde”.  Marco Antonio também é autor dos livros de contos "Trilhas do fogo" (2004), Contos de Pau e Pedra (2005) e Histórias de um Norte Tão Velho (2009) O escritor vai coordenar um bate papo com os presentes no evento, que acontece às 20h. Confira entrevista com o autor:


Com qual dos ofícios você se identifica mais: o de médico ou escritor? -

O oficio de médico e de escritor se entrelaçam a tal ponto que dá para dizer que é um oficio só. Todo médico, se quiser, tem um posto de observação privilegiado dos seres humanos. Os médicos veem pessoas e famílias vivendo situações extremas, compartilham momentos dificílimos. E também o contrario disso, situações de grande alivio, de alegria. A literatura também. A ela cabe contar sobre isso. A literatura é uma metáfora de vida.

Escritores precisam de muito tempo, coisa que médicos têm pouco. Como administra o seu?

A questão do tempo não chega a ser um problema. Como a maior parte do meu trabalho é no consultório, consigo administrar bem os horários. Quando os textos já estão amadurecidos, aproveito feriados, fins de semana para “fechar.” E não trabalho com prazos, de maneira que não há pressão para terminar esse ou aquele texto.

Seus textos têm inspiração na memória e história. Conte sobre esse seu interesse

Penso que todo escritor ouve uma voz, tem uma “vocação”, que constitui o seu repertório. Acho que ele não escolhe, simplesmente acontece. A minha “voz” são ecos de infância, da vida em uma cidade pequena meio rural, meio urbana. Um mundo que talvez nem exista mais, tais as mudanças que tivemos nas ultimas décadas. Não se trata de saudosismo, mas de reconstruir um passado e perceber nos dias atuais o quanto dele ainda perdura. Alguma coisa como procurar o que há de perene no meio do mutável. Até agora tem sido assim.

Depois de três livros de contos, você lança um romance. Como foi esse processo?

Foi meio natural. Muda a relação com o tempo. O conto pede síntese, está no meio do caminho entre a poesia e o romance. Ele quase não tem partes. É um todo. O romance pede expansão do tempo. Você o constrói em partes, tem mais tempo para pesquisa, tem múltiplos focos. É mais complexo, mas nem por isso mais fácil ou difícil que um conto. Fazer bem feito custa para os dois.

O que você lê? Que autor te fascina?

Leio de tudo um pouco. Gosto de filosofia, história e evidentemente literatura. E leio sempre orientado pelo prazer da leitura. Encaro como trabalho apenas a literatura técnica da medicina. E está de bom tamanho. Com relação aos autores, procuro alternar entre clássicos da literatura brasileira e universal e autores contemporâneos. Atualmente leio muito os autores daqui de Londrina e região. E encontro pérolas. Mas como influencia mesmo, aqueles de quem sou obrigado a confessar a inveja estão: Tchekhov, Dostoievski, Faulkner e ultimamente Cormac Mccarthy, por quem estou fascinado. E todos os grandes brasileiros Guimarães Rosa ( a quem nunca ousei imitar), Graciliano, Machado de Assis enfim, são escolhas meio óbvias para quem gosta de ler.

Você é disciplinado para escrever? Como é sua rotina?

Sou disciplinado no sentido que todo dia escrevo alguma coisa, às vezes uma frase só. Mas não tenho horário fixo ou tempo regular. Sai, como as leituras, conforme o prazer de fazer. Sem obrigatoriedades.

De que forma Ribeirão Claro está presente em sua obra?

Ribeirão Claro é a terra natal, com tudo o que isso significa. Avós, tios, conversas longas na cozinha, histórias que se escutam nas esquinas, tragédias miúdas que você sente na pele, amigos, paisagens bonitas, lembranças. Enfim um universo inteiro que fica guardado para sempre. Já não tenho ido lá com tanta frequência, mas é uma luz que não se apaga. Em tudo o que escrevo tem um pedaço disso. Não tem como fugir.