"Mas...e o zero?" será lançado dia 20 em Ourinhos

A escritora ourinhense Ana Cristina Silva Abreu lança o livro “Mas... e o zero?” na Biblioteca Municipal “Tristão de Athayde” no próximo dia 20, ás 20h. O livro é vencedor do Prêmio Ganymédes José 2011, da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro. Confira entrevista com a autora:


Tertuliana: O livro “Mas... e o zero?” trata de assuntos relacionados à matemática. Como as crianças reagem à leitura, já que não é um assunto fácil?

Ana: Pelas conversas que tive com alguns professores, o livro desperta a curiosidade. A matemática é sempre um tabu e é geralmente encarada com receio. No entanto, este livro apresenta o tema de forma lúdica, o aluno é envolvido pela história e busca descobrir a origem do número zero, tema central da trama. As crianças são também incentivadas a pesquisar mais sobre os matemáticos e os povos ali apresentados.

Tertuliana: Existe uma preocupação didática no texto de “Mas... e o zero?”. Seu livro tem sido utilizado em sala de aula?

Ana: O livro já foi adotado por algumas escolas, inclusive pelo Colégio Objetivo de Ourinhos. Ele foi estruturado como paradidático, mas com a preocupação de não permitir que o lado pedagógico se sobrepusesse totalmente à literatura enquanto arte. Tentei balancear essas duas propriedades do livro infantojuvenil: pedagogia e arte. Assim busquei evitar cair num lugar-comum e apresentar um trabalho puramente conteudista, o que causaria desinteresse. Não gosto da idéia de ler um livro literário para fazer uma prova e pronto. Escrevo para que os professores possam adotar outros recursos para trabalhar a compreensão e desenvolver nos alunos o gosto pela leitura.  

Tertuliana: Lucas, o menino da história, vive em uma grande cidade, e fica sozinho em casa enquanto os pais trabalham. Apesar de você ter crescido em uma cidade pequena, a infância vivida em cidade grande inspira mais seu trabalho?

Ana: Eu vivi em Ourinhos até as vésperas do meu aniversário de 7 anos, quando me mudei para Santo André, no ABC Paulista. Posso dizer que experimentei esses dois tipos de infância. Brinquei na rua até a noitinha quando no interior e fiquei trancada em casa quando no grande centro. Ao contrário do Lucas, tive minha mãe presente a maior parte do tempo. Acho que acabo por me dividir entre as duas tendências. No meu outro livro, “O Coelho sem Cartola”, os protagonistas vivem numa cidade pequena, vão para a capital se aventurar, mas acabam preferindo a realidade anterior.

Tertuliana: Por escrever para crianças, existe uma preocupação maior com a linguagem?

Ana: Creio que a preocupação com a linguagem seja a mesma que existe (ou deveria existir) em um livro direcionado aos adultos. Alguns autores afirmam que se deve tomar mais cuidado com a correção e o léxico na obra para crianças, mas eu particularmente acredito que esse posicionamento deva também permear a obra direcionada ao adulto. É claro que a linguagem é adaptada à faixa etária à qual o livro se destina, mas sem hierarquias ou fórmulas. O que geralmente ocorre com a obra infantojuvenil é a preocupação de caráter pedagógico, ou seja, transmitir bons conceitos e propiciar que a criança internalize hábitos condizentes com nossas crenças sociais.

Tertuliana: Qual a importância do trabalho do ilustrador no seu livro?

Ana: A ilustração e o texto devem sempre se complementar, não sendo a ilustração mera reprodução do que foi escrito, mas um elemento extra que estimule a imaginação. Para este livro eu queria traços que transmitissem aventura. Afinal, apesar de estar trancado em casa, o Lucas viveu uma grande jornada em busca de conhecimento. E o Shun, o ilustrador, soube imprimir à obra esse tom de ação, do jeitinho que imaginei. O traço dele tem um quê de quadrinhos, de mangá, o que se comunica perfeitamente com a meninada.

Tertuliana: Quais as dificuldades para se publicar e distribuir um livro dirigido ao público infanto-juvenil?

Ana: Bom, para começar alguém tem que ler o seu livro e gostar dele. E esse alguém não pode ser a sua mãe, o seu pai, o namorado ou uma amiga. Afinal de contas, eles são suspeitos para opinar. No meu caso, enviei originais para diversas editoras, muitas mesmo. E sempre recebia uma cartinha em que estava escrito que minha obra não se alinhava com as propostas da editora, que isso não significava que o texto fosse ruim e que me desejavam boa sorte para continuar tentando.

Foi apenas quando comecei a participar de concursos que consegui a primeira publicação. Mas, mesmo após a publicação, as coisas continuam complicadas. Já visitei muitas escolas para apresentar meu trabalho e a maioria dos coordenadores nem mesmo recebe os autores. Temos sempre de contar com o bom trabalho das Editoras neste sentido. A maioria das escolas indica aos alunos 1 livro por bimestre. Isso são 4 livros por ano apenas. E todos sabemos que a maioria das crianças não lê outros livros se não aqueles indicados no material escolar.

Ainda assim o mercado literário infanto-juvenil é o que mais cresce no Brasil. Só que falta muito para chegarmos perto dos países europeus ou da América do Norte, por exemplo. Entre o livro e a criança existe sempre um adulto e se esse adulto não se torna uma ponte, uma ligação com a literatura, podemos escrever quantas histórias quisermos que ainda assim não nos tornaremos um país de leitores.