Nossa imaginação não depende muito do nosso querer. Por isso, não sei por que, sempre imaginei que Pardinho devia ser uma cidade pequena, mas bonita e agradável, dessas que a gente tem vontade de conhecer, nem que seja de passagem, muito rapidamente. Talvez por lembrar o nosso Rio Pardo, que não por coincidência nasce lá perto, na Serra de Botucatu, como aprendemos na escola quando ainda crianças; talvez porque esteja próxima de Bofete e Torre de Pedra, região da chamada cultura caipira, estudada pelo então sociólogo Antônio Cândido no seu Parceiros do Rio Bonito, livro obrigatório do curso de Ciências Sociais do meu tempo, a verdade é que sempre tive vontade de ir àquela cidadezinha.
Numa manhã fria, mas ensolarada, do último mês de julho resolvemos, a Maria Inês e eu, ir visitar a Pardinho que eu tinha na cabeça. Depois do café pegamos o carro, tomamos o acesso à Castelo Branco, chegamos logo à rodovia, percorremos uns poucos quilômetros e entramos na estrada que leva a Botucatu. Um dos acessos a Pardinho se faz a partir dessa estrada, pouco antes da ponte sobre o rio Pardo e do Motel Roma, que tem na parede a inscrição CONFORTO – FELICIDADE – SATISFAÇÃO.
Não precisamos andar muito na estrada que leva a Botucatu para encontrar a placa que sinaliza a saída para a vicinal que leva a Pardinho. São cerca de vinte quilômetros de uma boa estradinha que segue no rumo leste, paralela à Castelo Branco. Vencida a distância, logo na entrada de Pardinho encontramos um hotel, que nos pareceu muito grande para o pequeno núcleo urbano. Ao procurar a área central, guiamo-nos pela torre da igreja e rapidamente chegamos.
A praça central da cidade, onde está a igreja — Paróquia do Divino Espírito Santo —, só ela já valeu a viagem. Se não me trai a memória, foi a pracinha de cidades do interior mais bonita e bem cuidada que já vi. Disposta em dois planos, ela tem na parte mais alta a igreja de frontaria alegre, pintada de azul e branco. O acesso à igreja é feito por uma escadaria larga, que dá ao local um sabor de sobriedade e beleza antiga.
A parte ajardinada da praça mostra cuidado e bom gosto: são plantas de pequeno porte e arbustos ornamentais que dão às ruazinhas e pequenas alamedas, com bancos de linhas arredondadas, um ambiente de calma e silencioso prazer. Muito bom lugar para se gozar a vida.
Não ficamos em Pardinho mais do que uma meia hora ou quarenta minutos... Mas viemos embora alegres e satisfeitos. A cidadezinha de quatro mil, setecentas e poucas almas, assentada em terras de duas antigas fazendas de padres da Companhia de Jesus, correspondera muito bem à expectativa que construí na imaginação.
Moral da história: acho que sou um sujeito de pequenas cidades e lugarejos.