Um Olhar Para O Canto Coral

Texto publicado na edição 23 do Jornal Balaio cultural de julho de 2009.

UM OLHAR PARA O CANTO CORAL

Dizem que as paixões são passageiras. As minhas são duradouras. Minha história com o Canto Coral nasceu há muito tempo e costumo dizer aos amigos que “ainda não desisti”, à revelia de entender o mundo atual como um desafio à humanização, à apreciação das coisas bonitas, naturais, às práticas presenciais e ações que não visem somente o sucesso individual.

Escreverei sobre o Canto Coral a partir de minha experiência nesse campo, sabendo que há muitas abordagens possíveis para esse tema.

Ao olhar para bem longe na linha do tempo, vejo seres humanos reunidos para cantar... (ou cantando, quando reunidos?) São ocasiões festivas, celebrações, reivindicações, manifestações de trabalho, em salões, praças, templos, escolas...

É como se necessitassem de um recurso diferenciado – talvez mais sutil, mais refinado que a voz falada – para “darem voz” aos seus valores, prazeres, desejos, sentimentos, crenças e ideais. As pessoas cantam em conjunto quando compartilham aspectos da vida! Instaura-se a cumplicidade e legitimam-se ações e anseios numa dada sociedade.

Num percurso que caminhou ao lado da evolução da própria linguagem musical que adotamos (e é bom lembrar o importante papel que teve o Canto Coral nos últimos séculos do Período Medieval e no Renascimento, como principal destinatário dos compositores europeus), o “Coro” nascente na antiga Grécia passou por várias mudanças e concepções, até que se fixasse em seu “clássico” formato SATB (soprano, contralto, tenor e baixo) e suas subdivisões.

As vozes humanas têm características que permitem agrupá-las por similaridade, segundo fatores fisiológicos e culturais, principalmente. Há vozes mais agudas, mais graves; há vozes médias, também. E há diferentes escolhas de sonoridade para um Coro.

Mas toda voz, indistinta-mente, resulta da atividade coordenada de mais de 100 músculos do corpo humano, que to-mam parte – para mais ou para menos – da fonação (produção da voz).

Um Coro implica a existência de um grupo de pessoas que se encontram sistematicamente para cantar, por apresentarem certas condições ou interesses em comum. Por isso, encontramos tão grande diversidade de tipos (ou categorias) de coros: segundo as faixas etárias e perfis vocais; quanto às propostas de “gosto” musical (repertórios); à gestualidade, comunicação; aos sistemas de crenças ou valores; conforme os mantenedores, só para citar alguns exemplos.

Há quem cante para aprender a cantar, para desinibir-se, “espantar seus males”, encontrar amigos, afastar solidão. Há quem o pratique por lazer, como meio de sobrevivência...até por buscar seu cantinho de visibilidade no palco. Há quem o faça simplesmente para “ser escutado”.

Em países como o Brasil, com graves problemas sociais e onde o contato com a arte ainda é restrito a uma minoria, o Canto Coral pode ser visto como um “lugar” de acesso à música e sua vasta herança cultural, à qual todo ser humano deveria ter o direito de vivenciar – a “experiência estética”! –, em prol de uma atitude mais poética, criativa e sensível, frente à vida e às comunidades.

Manter um Coro custa pouco, em relação a outras práticas artísticas. Seus “instrumentos estão colados” em seus próprios integrantes. Cantar é pretender fazer de si mesmo...música!

Assim, sempre que penso acerca do Canto Coral, relaciono-o com a necessidade de se comunicar de modo especial e compartilhar fatos da coletividade à qual se pertence. Considero as várias identidades dos grupos e suas afinidades de interesses. Reconheço as vá-rias formações vocais. Destaco a possibilidade concreta de acesso ao conhecimento musical que pode oferecer aos seus membros.

Entendo-o como uma pequena comunidade, onde a todo instante posso me exercitar em trocas interpessoais, resistir contra a banalização da música de consumo veiculada pelos meios de comunicação de massa e o individualismo reinante nessa nova “era líquida”, na qual estamos nos tornando náufragos de sensibilidade e laços.

É no canto coral que me supero, percebo que posso melhorar como ser humano e musicista, ciente de que envolve a aprendizagem de técnicas específicas, paciência, cuidado, dedicação, compromisso, ganhos e perdas. Daí, minha paixão.

Ana Yara Campos é jornalista e professora no Centro Cultural Tom Jobim, onde desenvolve um trabalho que conjuga as linguagens da música, do teatro e da dança.

 

Por Ana Yara Campos

Ana Yara Campos é jornalista e professora no Centro Cultural Tom Jobim, onde desenvolve um trabalho que conjuga as linguagens da música, do teatro e da dança

Tertuliana DOCS
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